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sexta-feira, 22 de junho de 2012

O MOMENTO CERTO DE CORRIGIR OS ERROS COMETIDOS POR SEUS ALUNOS,NEM SEMPRE É NO INSTANTE EM QUE ESSES ERROS FORAM COMETIDOS!

                                     A discussão do erro assumiu um papel importante nos últimos tempos por motivos diferentes e até opostos.Primeiro,foi importante perceber o mal que fazíamos aos nossos alunos quando desconsiderávamos seus conhecimentos com o famoso "tá errado" de caneta vermelha.A idéia de erro construtivo abriu um mundo desconhecido que fascinou a muitos de nós,educadores.Passamos a viver um certo encantamento com os erros:é de fato maravilhoso ver uma criança pequena escrevendo,dentro de um sistema silábico,poesias,parlendas ou histórias.Quando as crianças passavam a escrever alfabeticamente era mais lindo ainda.Até aí tudo bem,mas as crianças mais velhas e alfabetizadas escreverem errado nunca alegrou ninguém.
                           Poema escrito por Danilo,6 anos recém-alfabetizado,
No caso da ortografia,que mobiliza tanto os professores,fica claro que a correção se define pelo momento da aprendizagem em que os alunos,estão.Se a criança ainda nem escreve alfabeticamente,e para escrever cachorro usa menos letras do que precisa -por exemplo, KXO -,deve o professor insistir com ela que não é com  X que se escreve,mas com CH,ou que o K nem existe no nosso alfabeto e ele não faz sentido ainda para ela.Além de inútil,poderá deixá-la atônita,porque ela não sabe sequer do que o professor está falando.Para essa criança,a intervenção adequado é aquela que a ajuda a transformar suas idéias sobre a escrita,isto é,aquela em que o professor cria situações nas quais ela possa pôr em jogo sua hipótese sobre a escrita,que nesse momento é silábica.
Quando,num outro momento,um aluno escreve CAXORO,o professor precisa intervir na questão ortográfica e consider cuidadosamente a melhor forma de fazer isso.Se naquele momento o menino está escrevendo uma história,e articulando o fluxo das idéias,interrompê-lo para corrigir a ortografia não faz sentido,a não ser que ele mesmo pergunte:"Cachorro é com X ou com CH"?,e aí,claro,o professor deve responder.Isso não significa que ele não vá trabalhar com situações de reflexão sobre a ortografia,mas que vai priorizar,naquele momento,o desenvolvimento da escrita do texto,criando uma nova oportunidade,em  um outro momento,para intervir especificamente na aprendizagem de ortografia.Esse novo momento poderá ser apoiado naquele texto em particular para aquela criança ou pode ser um trabalho coletivo,no qual o professor tratará questões ortográficas comuns a várias crianças da classe.
                                                
O que deve ser repensado é a concepção mais tradicional de correção,apoiada na idéia de que ela tem um caráter cirúrgico,precisa ser feita no ato em cima do erro.Muitos professores e mesmo os pais consideram que o erro não corrigido ficará para sempre na memória do aprendiz.Isso não é verdade.Se o menino escrever CACHORO uma vez,não significa que ele nunca vá aprender que "cachorro" é escrito com dois erres e não co um só,já que essa é uma ocorrência regular na língua.Além do mais,se simplesmente ver levasse as crianças a aprenderem a escrever,aos oito anos ninguém mais cometeria erros ortográficos ,porque o que mais veem é a escrita correta.Por que haveríamos de crer que a criança vê repetidas vezes a forma certa e não a fixa e,num rápido e eventual contato com o errado,fixa o erro?
Assim,entre o "tudo pode" e o "nada pode",entre o "não se deve deixar nem a sombra do erro" e o "agora  não é mais para corrigir" existe um enorme espaço para a atuação inteligente do professor - como pode ser observado no depoimento seguinte:
                                      
Quando eu era professora de uma classe de pré,vivia fascinada por ser testemunha e parceira do processo de alfabetização das crianças.Uma das características mais marcantes desse momento é a consciência e,por conseguinte,a preocupação que os alunos começam  ter em escrever convencionalmente ou,nas palavras das próprias crianças,escrever certo.Na educação infantil,se você pedir às crianças que escrevam alguma coisa,na grande maioria das vezes elas não tem o menor pudor:
pegam o papel,o lápis ou caneta e se põem a escrever.Mas no ensino fundamental,como alguns já começam a escrever convencionalmente,outros ficam meio intimidados e não querem se expor.
Este é um dos maiores desafios do professor.Nossa expectativa é que eles escrevam e,a partir dessa produção,possamos colocar questões e problematizar para que avancem nas sua ideias sobre a língua escrita.Mas e quando pedimos que escrevam e eles dizem que não sabem escrever? Aí é  uma encrenca.Eu vivi essa situação.Quando os alunos começavam a mostrar resistência para escrever,eu ficava perturbada.Afinal,era verdade que eles não sabiam.A única coisa que sobrava,e que eu achava correto,era dizer: "Escreva do seu jeito".
No primeiro momento isso até funcionou.Eles se despreocupavam,relaxavam e acabavam escrevendo.O problema é que algumas crianças começaram a achar que escrever do jeito delas era sinônimo de escrever de qualquer jeito.Resultado:eu tinha que engolir qualquer coisa porque,afinal era do jeito delas.Ficou claro também que estavam realizando produções inferiores ao que seriam capazes de fazer.
Percebendo isso e discutindo com outros professores que também estavam sentindo esse problemas,acabamos encontrando uma solução.Passamos então a pedir que as crianças escrevessem "da melhor maneira possível" ou "do melhor jeito que conseguissem".Passamos também a chamar a atenção das crianças para que utilizassem conhecimentos sobre os nomes deles e dos colegas,que olhassem as listas(de histórias conhecidas,de materiais,etc.)que havia na classe,que procurassem no alfabeto letras que pudessem servir,etc.
Creio que foi um salto de qualidade para a nossa atuação como professores.Desse modo,as crianças não se sentiam obrigadas a escrever convencionalmente,com medo de estar fazendo errado,e, ao mesmo tempo,não se contentavam com pouco.
(Depoimento da profª Cláudia Aratangy,classe de pré,escola particular)


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